terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Negro Irmão!







Um olhar firme e directo

Para dizer o teu nome

O respeito só completo

Ao dizer a tua fome.

Se falar da tua história

Dói a quem lhe sente a culpa

Se em mar de tua memória

Tua inocência resulta;

Se te escrevem e descrevem

Sem chegar ao que tu és

É que ficaram aquém

Da essência das marés.

Lavraste a história do mar

Com o teu nome cativo,

Mas trazes no teu olhar

O mundo em que sobrevivo.

Tu sim, conheces o preço

Do amor e da família

Perdidos desde o começo

Dos que eram tua matilha.

Tu que és ainda o olhar

Da frescura juvenil

Que semeaste no mar

O teu coração viril

Tu meu irmão, que és o filho

Da mãe de todas as mães

Trazes nos olhos o brilho

Dessa ternura que tens.

Tu que da tua pobreza

Fazes riqueza de tantos

E abres a tua mesa

Ao causador de teu espanto

Tu que sabes repartir

Dando do pouco que tens

E que choras a sorrir

Porque sabes donde vens;

Eu quero ser tua irmã

Tua mulher, tua amiga

Pra levantar amanhã

Ao que hoje o pensar me obriga.

Mas eu nem sei se o mereço...

Apesar de querer o esforço

Pró mundo futuro e moço.

É a ti negro, que falo

É a ti que me dirijo

Pois cada verso que calo

No porão do esconderijo

Não vê nunca a luz do dia

Não chega à tua verdade

Nem à voz que principia

Numa nova sociedade.

Tu tens o valor da terra

Trazes o respeito em ti

Numa alegria sincera

Que extravasa quando ri.

Como é pequeno o poema

Para dizer coração

Pra cantar pele morena

Do negro que é meu irmão.



Por: Marília Gonçalves

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